20 January 2022

Adriana Peliano em "diálogos e insólitas figurações" por Maria Zilda da Cunha

Imagens em migrações poéticas: miradas potenciais.
São Paulo: FFLCH/USP, 2021.
 
 
No capítulo "Alice no país das artes: diálogos e insólitas figurações" Maria Zilda da Cunha viaja no imaginário de Alice através das artes e fala também das minhas colagens e do livro que publiquei no ano passado "Alice em Sete Chaves" (A mascote, 2021) e em inglês "Alice and the 7 keys" (Underline Publishing, 2021) 
 
 

 
Leia o trecho que fala do meu trabalho:
 
"Adriana Peliano, jovem artista brasileira, presidente da Sociedade Lewis Carroll do Brasil, por meio de recortes, fragmentos, colagens, montagens, mandalas, metamorfoses e assemblagens, desperta-nos um inventário aliciano em mágicos e múltiplos universos da arte plástica, reinventando a lógica do cotidiano, propondo novos sentidos por meio de jogos de linguagens, inserindo o interlocutor em labirintos de sonho. De Alice e suas aventuras, ampliadas por meio de leituras e releituras, que se fizeram ao longo dos anos, Peliano vem compondo um repertório crítico e criativo em uma obra de valor inestimável.

Em 2011, a artista brasileira foi responsável pela tradução, tipografia, concepção e projeto gráfico de Aventuras de Alice no Subterrâneo – manuscrito de Carroll (1862-1864), publicado no Brasil; ilustrou livros de Alice tal como a edição comemorativa de 150 anos deAlice pela Editora Zahar, que reuniu em um só volume as duas obras de Lewis Carroll: Alice no País das Maravilhas e Através do espelhoe o que Alice encontrou por lá. A primeira imagem do mosaico (fig,11), o coelho branco, é uma das ilustrações que compõem o exemplar.

Em seu último livro, Alice em sete chaves, (fig. 12) publicado pela A Mascote Editora, em julho de 2021, Adriana Peliano convidanos a uma viagem por diversos espaços labirínticos, em que se oferecem chaves para abrir portais e enfrentar caminhos insólitos e ambientações oníricas. Espaços em que nosso olhar sofre constantes metamorfoses “surrealicedélicas”, por perceber-se em jardins de sonhos, nos quais a imaginação, a inventividade criativa e crítica insistem em nos mover por entre fragmentos de universos que se conectam a nossas questões existenciais.

A obra faz-se análoga a um jogo em que, ao jogar com possibilidades que se “movem em fractais do infinito como o maior alicescópio jamais visto!” (PELIANO, 2021, p. 4), o leitor passa a navegar por uma obra tecida com fios a serem tramados pelos diálogos entre as linguagens (verbal, visual e sonora45), entre a literatura e as artes plásticas.

A produção de Peliano, de singular captação estética, com suas colagens e intervenções, nos traz desafiadoramente reverberações de figuras de John Tenniel e Gertrude Thomson - que ilustraram os livros originais de Alice - e de pinturas de Bosch, Marx Ernest, Salvador Dali, Monet, só para citar alguns.

O verbal, nesse texto, ganha configurações icônicas na analogia com as chaves - chave dos portais, chaves de leitura, chave dos sonhos etc. O livro, como carnadura, empresta sua materialidade ao design para a composição da enigmática narratividade. Estamos nessa obra de Peliano diante de uma forma escritural contemporânea que se faz como processo de desarticulação de toda pretensão ao universal, de todo ritual para demarcação de poderes e glórias. Nessa trama, faz-se uma literatura no entrelaçamento de diferentes artes, de diversos planos discursivos, fora de qualquer ordem ou modo monopolizador do tempo, do espaço e da imaginação, reverberando elaborações ampliadas que podem abrigar a complexidade. Como no sonho, Alice, assumindo insólitas figurações, imaginou-se certamente neste livro."