Faz tempo que Alice não é nome de menininha. Faz tempo que Alice não é nome de um personagem de estórias curiosas e cheias de surpresas. Alice virou nome de viagem, de sonho, de nonsense, de aventuras na língua e na linguagem. Quando a lagarta pergunta para Alice – Quem é você? – Alice não sabe dizer depois de ter se transformado tantas vezes naquele dia. Às vezes assustada, às vezes entusiamada, se descobre em constante transformação. E assim ela saltou das páginas do livro e se transformou muitas e muitas vezes, seguindo novas modas e modos, numa viagem ao mundo em 150 anos.
Sabemos que a estória de Alice foi contada pela primeira vez por Lewis Carroll em um passeio de barco (1862) com Alice Liddell e suas irmãs. Essa estória deu origem a um manuscrito nomeado como Aventuras de Alice no Subterrâneo (1864) que se desdobrou no clássico Aventuras de Alice no País das Maravilhas (1865). Novos personagens, figuras e diálogos foram criados nesse processo. Anos mais tarde o próprio Lewis Carroll recontaria a estória para crianças pequeninas em The Nursery “Alice” (1890). No início do século passado a editora original de Alice, a Macmillan de Londres, publicou uma adaptação anônima das aventuras de Alice na coleção "Little Folks Edition", lançada inicialmente em 1903. As ilustrações são versões das ilustrações de Tenniel com novas cores e sabores. É essa adaptação você vai encontrar nesse livro.
A história é recontada menos elaborada e complexa, mais simples e acessível, mais fácil de ler, ainda assim envolvente e sedutora. O leitor habituado com o livro original irá preceber trechos que foram excluidos e algumas mudanças que foram feitas também. Mas como ler Alice é uma viagem sem fim, esse livro é um novo convite, como um coelho branco nos enfeitiçando para mergulhar em sua toca mágica, aonde muitas portas ainda esperam serem abertas por leitores curiosos e corajosos. Como Alice que cresce e diminui tantas vezes em suas aventuras, esse livro é uma Alice que bebeu da garrafa escrito “beba-me” e encolheu de tamanho. Agora é papel do leitor comer o bolo na tradução fluida e divertida de Dirce Waltrick do Amarante, que viajou no país das maravilhas para brincar com as palavras, o nonsense e a arte das transformações e alicedélicas alicinações.
Adriana Peliano