Alice viaja através das artes visuais, das ilustrações vitorianas à arte contemporânea, passando pelo surrealismo, os filmes da Disney e as Gothic Lolitas. Nesse percurso surgem novas articulações entre texto e imagem que enfatizam a multiplicidade de leituras que a obra de Lewis Carroll abre caminho. Alice ganha vida própria nas tessituras da cultura, menina caleidoscópico, monstro fabuloso no labirinto da linguagem e da imaginação. Ao invés da pergunta “Quem é Alice?”, hoje existem caminhos que desbravam novas possibilidades do que Alice pode vir a ser.... Esse artigo é uma caça por Alice em suas metamorfoses e devires.
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rio
Elena Kalis
Alice foi criada na barca do sonho, num espelho líquido, seguindo o movimento do desejo, da imaginação e da curiosidade. Nasceu sobre o rio com seus duplos e reflexos, na correnteza e na contra corrente, na geometria de risos e estranhos paradoxos. Um livro agente não lê; a gente se precipita nele. Ele está, a todo instante, em torno de nós. Sentada nas margens, Alice iria se perguntar: e de que serve um livro sem figuras e nem diálogos? Faz de conta que Alice tenha sido mesmo o livro mais ilustrado de todos os tempos. Isso nos mostra que continuamos respondendo a pergunta que Alice não fez: E de que serve um livro com figuras e com diálogos?
Menina rio, Alice transita entre labirintos aonde se perde e se encontra em ritmos misteriosos. O grande paradoxo que percorre as aventuras de Alice, diz Deleuze , é a perda do nome próprio, identidade infinita, eterno devir. Quando a lagarta pergunta para a menina, quem é você? Alice não sabe a resposta. Eu sei quem EU ERA mas tenho me transformado várias vezes desde então. Num paradoxo Alice diz que não, mas também diz que sim: sei quem sou, contínua transformação. Como Alice, quando parece que sabemos quem somos, já somos outros, e o que achamos que somos é o que um dia fomos. E o mundo que conhecemos já é outro a cada instante. Menina que nasceu no rio de Heráclito, que sabe que o ser e o não ser conversam todo tempo, num eterno ciclo de se criar a todo momento.
Quando Alice diz que só sabe quem foi, diz que estamos sempre em movimento. E quando foi ilustrada por John Tenniel na Inglaterra vitoriana, inaugurou uma tradição de Alices que seguiram o seu caminho. Mas Alice já não é mais a Alice vitoriana mas o caleidoscópio vivo de todas as possibilidades. Quantos artistas foram de fato movidos pela necessidade de superação dos modelos estereotipados da menina e seu mundo surpreendente, e pela procura por novas aventuras de linguagem? Ao invés da pergunta: quem é Alice, hoje desdobram caminhos para quem Alice pode vir a ser...
Abelardo Morell
Os artistas e ilustradores foram levados a descobrir ou inventar novas relações entre texto e imagem. A identidade do tema era subvertida pela atração pelo desconhecido e pelo inexplicável. O ilustrador passou a provocar e transgredir ao invés de repetir. Questionaram a idéia clássica que a arte devia imitar ou interpretar a realidade exterior. Passaram a buscar também a subversão, o paradoxo e a experimentação. Hoje se habita a alteridade e a diferença. Leituras intertextuais, metalinguagem, montagens múltiplas, narrativas não lineares. Abracadabra.
Desde o início do século passado, cada década criou nas diferentes visões e estilos as suas próprias Alices. Art Noveau, Art Déco, Surrealista, Pop, Psicodélica, Futurista, Gótica, Näif, Étnica, Dark, Steampunk, surrealista pop . Alice é uma menina doce e ingênua, uma feminista questionadora, uma pequena perversa, uma assassina louca e sanguinária, uma adulta drogada, uma buscadora de mundos além da consciência, uma psicodélica delirante, uma guerreira de espada e armadura, múltipla e mutante.
Suzy Lee
Salta da ilustração para a arte, para o cinema, para a moda, para a animação, para os jogos, para os quadrinhos, para a mistura que hoje reina e que pede outras compreensões. E todas convivem nos nossos tempos alicinados de misturas e mil costuras e trânsitos por múltiplas redes. Não conheço outra menina com tantas faces, viajantes de mundos imaginários, trazendo consigo os paradoxos que desafiam o bom senso e o senso comum. Um livro que não se encaixa em nenhuma figura ou explicação, mas que prolifera possibilidades de criação.
“Vivemos na cultura imagética da colagem e da montagem, da velocidade e da voracidade: uma imagem devora a outra velozmente, transformando-se em outra imagem, também pronta para ser devorada”, aponta Norval Baitello. As imagens nos seduzem e nos absorvem, mas na perda da capacidade de criar vínculos consistentes e relações de sentido, de devoradores indiscriminados de imagens passamos a ser pelas milhares de Alices devorados. Coma-me. Nos perdemos em desertos labirínticos e ao invés de ver sempre o outro no mesmo, Alices diferentes a cada leitura, nos fixamos na triste aventura de ver sempre o mesmo no outro, nada vemos de novo nas milhares de Alices que nos circulam. Decifra-me ou te devoro.
Querida Companhia
A estória de Alice já é tão conhecida que passa a ser fragmentada, repetida, deslocada, desconstruída, mastigada pelos artistas de toda parte e toda arte. Com seu pescoço de serpente Alice navega entre identidades híbridas, misturas, contrastes, estranhezas, mercadorias, gato por lebre e bobagens que todo mundo compra e acredita sem saber por que. Ela se aventura para o novo e olhar para trás para recriar-se de novo. E assim é Alice. Alice é todas e é nenhuma e ela se estica como o maior caleidoscópio jamais visto. Adeus pés!
Alice passeia pelas margens e entrelinhas, peregrina das fronteiras, viajante do desconhecido, mas também das frases feitas, dos clichês, do lugar comum, das distorções e simplificações baratas que insistem em empobrecer a vida e a arte. Ao percorrermos as paisagens de Alice, percorremos também nossas paisagens interiores. Novas Alices aprendem que não existe um caminho, mas o caminho se cria ao andar.
Sissi Venturin
Mcluhan reconheceu que Lewis Carroll olhou através do espelho e encontrou uma espécie de espaço tempo do homem eletrônico. Antes de Einstein, Carroll já havia penetrado o universo ultra sofisticado da relatividade. Cada momento em Alice, tem o seu próprio espaço e o seu próprio tempo. E a fragmentação do tempo em uma multidão de pequenas frações do presente junta-se a fragmentação do espaço em um caleidoscópio colorido e transfigurado. Pedaços de Alices do mundo inteiro se entregam as tarefas de viver, de comer, de beber e se envolver em um banquete sem fim e suas potencialidades infinitas.
Num dialogo com Alice e seus labirintos, Maria Zilda da Cunha e Nathália Xavier Thomáz captaram os fluxos da menina em suas metamorfoses, hibridismos, metalinguagem. Modos de conexão como cadeias de pensamentos, “que ao fim e ao cabo, entre o risco e o rigor, em seu fluxo, enuncia e denuncia, por outro universo do absurdo, o absurdo de determinadas regras e valores instituídos por sistemas criados para regerem a vida do homem.”
Para que continuar vivendo como Alice sentada na mesa posta do chá emburrada e calada como Tenniel nos mostra? O que buscamos hoje são maneiras de ficarmos amigos do tempo e criarmos novos tempos (como sugere o chapeleiro) e nos libertarmos dos rituais que aprisionam, repetitivos e sem sentido. Esse é um convite para as novas Alices. Alices nômades e mutantes, múltiplas e simultâneas. Marcel Duchamp disse que o artista, tal como Alice no pais das maravilhas, tinha que atravessar o espelho da retina para alcançar uma expressão mais profunda.
Lewis Carroll
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Subterrâneo
Nas ilustrações do manuscrito Alice é afetiva, espiritual e espontânea, mas também angustiada e melancólica. Ela ecoa mitos românticos do pré-rafaelismo e brilha entre um mundo lógico e um mundo mágico. Ao mesmo tempo vislumbramos seres híbridos e metamórficos, que invocam bestiários fantásticos e os seres grotescos de Hieronymous Bosch. Não estariam esses desenhos entre os precursores dos bestiários surrealistas, entre mundos oníricos e monstros fabulosos?
Mas quando a obra foi publicada em Londres, foi ilustrada por John Tenniel, famoso ilustrador do Punch, periódico vitoriano, caricaturista que criou as ilustrações das primeiras edições de Alice no país das Maravilhas (1865) e Alice através do Espelho (1872). Ainda é comum a crença de que raramente um autor foi tão bem servido por um ilustrador como Lewis Carroll foi por John Tenniel, mesmo que a obra já tenha sido ilustrada por milhares de artistas em todo mundo desde então.
Ainda confundimos as figuras e o texto que parecem contar juntos a mesma estória. Perdemos muitas vezes a noção se as figuras são de fato fiéis ao texto ou se criamos a partir delas um novo texto. Pode existir de fato fidelidade entre figuras e textos com os das Alices? Será que Alice de Tenniel continua sendo a mais perfeita ilustração da obra para um olhar contemporâneo?
John Tenniel
Quem desafia a Rainha tirânica passivamente de braços cruzados?
John Tenniel
Quem enfrenta um gato louco e busca novas direções a seguir segurando as mãos para trás?
Polixeni Papapetrou
Alice não se transforma, Alice é transformação. Quantas aventuras ainda viveria, quantos caminhos escolheria, quantas ainda viria ser? Se a vida é sonho, Alice não tem como acordar, senão despertar. Não se trata apenas do que estava escrito, mas de ouvir que nós mesmos somos outros a cada leitura e conosco nascem novas Alices. Alice extravasa as bordas do livro e vai viver múltiplas aventuras entre constelações de sonhos, pensamentos e afetos.
A Alice de Tenniel senta emburrada na mesma do chá, sem vontade própria. Ao mesmo tempo todos aqueles que insistem em reproduzir as fórmulas e o lugar comum continuam presos no ritual repetitivo da hora do chá. Muitas Alices de hoje se desdobram em novas linguagens e figuras, despertando em diferentes artes, ganhando vida própria nas tessituras da cultura. Amigos de novos tempos, de que Alices somos capazes?
Entre leituras e releituras, cometo a ousadia de selecionar 42 artistas em sete grupos aonde procuro:
Alices enigmáticas que desestabilizam o lugar comum e sugerem novos caminhos de leitura: Alain Gauthier, Dušan Kállay, Jonathan Miller, Martin Barooshian, Nicole Claveloux, Unsuk Chin.
Alices conceituais que vivem entre labirintos e paradoxos: Randy Greif, Iassen Ghiuselev, Julia Gukova, Luiz Zerbini, Oleg Lipchenko, Sergey Tyukanov.
Alices que cruzam fronteiras intertextuais e visitam personagens de outras estórias:
Alice chegou ao Brasil graças a Monteiro Lobato, que fez as primeiras traduções da obra, alem de ter convidado a menina a visitar o sitio do picapau amarelo em algumas de suas estórias.
Alices de corpos metamórficos, desafiando identidades híbridas e sonhos eróticos: Arlindo Daibert, Kuniyoshi Kaneko, Nicoletta Ceccoli, Tania Ianovskaia, Tanya Miller, Vince Collins.
Algumas Alices que se aventuram em pesadelos e sombras e desafiam as fronteiras da mente e do insconsciente: Alice mcGee, Anna Gaskell, Camille Rose, Dark Marchen Show, Jan Svankmajer e Trevor Brown.
Quais serão amigos do tempo e ao invés de reproduzir padrões repetitivos, criam novas viagens em dialogo com a obra e os desafios dos novos tempos? Como criamos nosso tempo?
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Maravilhoso
Em sua viagem Alice se perdeu em labirintos imaginários até que chegou na galeria de arte chamada GRADIVA criada por Andre Breton. Ela viu seu nome de Alice na porta, entre outras musas surrealistas. Leu então um trecho do folheto da galeria:
Do livro de imagens infantis para o livro de imagens poéticas.
Alice viu que o surrealismo transportou a menina vitoriana para o livro de imagens poéticas. Foi quando ela viu um sorriso pairando no ar que falou: As aventuras de Alice dentro da toca do coelho ou através do espelho encoraja a procurarmos outras brechas para penetrarmos no maravilhoso.
Lewis Carroll deixou a porta do sonho entreaberta. Alice atravessou e adentrou em um labirinto de espelhos, um jogo sem fim, projeções de si mesma criadas por artistas surrealistas. Musa surrealista, esfinge, femme enfant. Alice se desdobra em visões múltiplas de um mito moderno. Alice cruza portais para o desconhecido, mergulhos no inconsciente, ritos de passagem, revelação de um feminino sibilino e arcaico e se mistura em paisagens de um mundo em ruínas, nos ecos e fantasmagorias dos pesadelos da guerra e do raiar de um novo mundo.
Carroll era uma leitura e uma referência amplamente compartilhada pelos surrealistas. Ele era lido por Paul Eluard, Gisele e Mario Prassinos, Guy Levis Mano, Max Ernst, Dorothea Tanning, Leonora Carrington, Henri Parisot, Frédéric Delanglade, Toyen, René Magritte e Salvador Dali, entre outros. Max Ernst iria ilustrar algumas obras de Lewis Carroll além de ter confessado que era o seu segundo escritor predileto depois apenas de Lautréamont. Entre os surrealistas Salvador Dali, Magritte, Max Ernst, Dorothea Tanning, Leonora Carington, Toyen, Hans Bellmer, entre outros recriaram esse monstro fabuloso que acreditava ser uma menina.
Salvador Dali
Se os relógios revelam a mecânica da medição do tempo linear, os relógios moles remetem para o tempo relativo e o universo da memória e do prazer. Do surrealismo à arte contemporânea, ela perdeu a figura e ganhou novos diálogos. Alices surrealistas são corpos em metamorfose e devir, num espaço do sonho e do maravilhoso. Alice de Dali dá passagem para a presença fantasmagórica e caleidoscópica de Alices duplas, múltiplas e sem nome no imaginário contemporâneo. Alice de Dali abre caminhos para novas Alices, que fazem novas perguntas para o sorriso sem Dali pairando no ar.
4
Monstro fabuloso
Alice foi visitar o surrealista tcheco Švankmajer que ilustrou os dois livros de Alice numa rara e estranha edição japonesa. Suas figuras ultrapassam os limites da ilustração convencional criando relações inesperadas entre figuras e diálogos. São colagens que reinventam o mundo imaginado por Lewis Carroll, propondo novos enigmas e paradoxos numa viagem surrealista.
Jan Švankmajer
A metamorfose no surrealismo se tornou uma necessidade violenta e animalesca, abalando os limites da natureza humana. A vida é sonho. Alice viu nos monstros surrealistas que a subjetividade não era aquele lugar seguro e estável que fizeram que ela acreditasse. Alice se viu inserida na selva imaginária das esfinges e quimeras, entre colagens que apresentavam identidades múltiplas que emergiam de mundos subterrâneos, estranhos e arcaicos. Sua figura se montava e desmontava, se metamorfoseava entre imagens de biologia e botânica, bonecas, ilustrações vitorianas e símbolos sexuais. Duplos, múltiplos, devires.
Nas palavras valise do Jabberwocky moravam um bestiário de seres como as lesmolisas, pintalouvas e momirratos. Palavras colagens se convertiam para Svankmajer em monstros colagem, seres híbridos e enigmáticos. O corpo de Alice era instável e mutante, um quebra cabeças sem resposta certa. Alice é valise de impossíveis. Quando a lagarta pergunta para Alice, quem é você? Alice de Švankmajer é desenho, é boneca, é cogumelo, é renda, é textura, é pulsação. Lagarta e Alice se encontram num élan vital na potência do vir a ser.
Alice continuou e assistiu fragmentos do filme de animação experimental de Švankmajer que revelou dimensões insuspeitadas sobre ela mesma. Grande parte da animação era desenvolvida através de uma mistura explosiva de stop motion, objetos e uma ampla variedade de objetos surreais e corpos híbridos e bizarros. Seus personagens podiam ser interpretados por máquinas, meias, argila, bonecas e brinquedos antigos, carnes, até esqueletos e corpos de restos de experiência de taxidermia. Os cenários eram ruínas, paisagens decadentes e subterrâneos, transformados numa atmosfera sombria e decadente.
Švankmajer adaptou a história de Carroll segundo um diálogo pessoal com o mundo dos sonhos da sua própria infância, um mundo habitado por desejos, sexualidade latente, medos, ansiedades, angústias e obsessões. Somos também confrontados como nossa própria infância, nossas próprias Alices, medos e dilemas. Cada vez que assistimos o filme, sonhamos de novo e Alice se torna outra, entre silêncios e sussuros. Me lembro agora da carta de Paulo Mendes Campos para sua filha Maria da Graça, ao completar 15 anos e receber Alice de presente. “Esse livro é doido, Maria, o sentido está em ti.”
Alice olhou o seu reflexo na água do rio e ele se transformou numa menina boba e ingênua de avental azul conhecida por muitos em muitos anos como a verdadeira Alice. Sua estória recriada em um desenho animado pela fábrica de sonhos de Walt Disney ganharia muito poder, diluindo no imaginário coletivo, as metamorfoses da menina que se transformava a todo momento. Inspirada nas ilustrações originas de Tenniel, essa Alice se tornaria o novo ícone máximo, impondo por um bom tempo para o grande público uma identidade fixa e hegemônica para a menina de muitas faces.
Assistindo o desenho, Alice lamentou o nonsense ter se convertido em lições de moral e bom comportamento. Como as princesas do Walt Disney, Alice do desenho se mostrou uma jovem indefesa e passiva diante de um mundo louco e sem sentido. O país das maravilhas mostrava a loucura para que ela pudesse desejar a sanidade. Mostrava o desajuste, para que ela desejasse se ajustar. Os personagens indicavam para ela como era o sistema, para que ela aprendesse a se integrar, andar na linha e assumir o seu papel na sociedade.
Alice percebeu que o desenho animado da Disney ao mesmo tempo revelava a sua estória para o mundo e escondia seu potencial critico e subversivo. Mas ao mesmo tempo, o filme da Disney se tornou um ícone na contra cultura e na psicodelia dos anos 60, como um elogio ao surrealismo, à loucura e à criatividade. Alice ficou curiosa de ver como cada obra estava aberta para que se expandissem multiplas leituras para sentidos contraditórios e muitas vezes paradoxais.
Alice descobriu que muitos anos depois, no início do século XXI, a Disney produziria outro filme sobre ela, dessa vez dirigido por um diretor dark e cheio de imaginação chamado Tim Burton. Nesse filme, depois de muitos anos, Alice retorna ao pais das maravilhas para cumprir sua missão de derrotar um terrível dragão, o Jabberwock, conforme tinha sido previsto numa profecia. Todos perguntam a ela: Você é a verdadeira Alice?
Alice concluiu que não. Nesse filme o nonsense se encaixou em fórmulas reducionistas da concepção da saga do herói. Alice deveria virar uma guerreira, derrotar e destruir o inimigo num mundo maniqueísta, matar o dragão para então acordar e assumir seu papel colonialista. Alice retoma os projetos do pai de conquistar a China.
A verdadeira Alice, pensou, não é guerreira, mas aventureira. Não mata o inimigo, mas aprende com ele. Não quer conquistar o mundo, mas conhecer a si mesma. Para ela o país das maravilhas não é um campo de batalha mas uma viagem, um jogo, um jardim e uma aventura. Por isso esse filme é tão insuportável, pensou Alice. Porque ele mostra o pesadelo e a loucura que vivemos no mundo de hoje.
De novo graças ao Tim Burton e à Disney com todo seu investimento na divulgação do filme, se fortaleceu de forma nunca vista, a presença de Alice no imaginário contemporâneo. Não só pelo que ele mostra, mas principalmente pelo que estimula. Mesmo da repetição insistente de signos de consumo, renascem possibilidades de novos devires e amizades com o tempo. Entre os satisfeitos e os insatisfeitos com o filme, podem surgir inúmeras possibilidades criativas e existenciais. Com o filme tivemos a chance de ler o livro de novo, descobrir outras figuras, outras linguagens, outras viagens, produzir, criar, emocionar, descobrir e enfim se dialogar e se aventurar, cada um ao seu modo, nesse mundo emocionante que ainda nos desafia a mergulhar também.
A primeira vez que li Alice, me imaginei caindo com ela até chegar ao outro lado do planeta aonde vivem as pessoas de cabeça para baixo, isto é, para quem vive no Brasil, no Japão. Muitos anos depois eu descubro que no Japão estão algumas das mais estimulantes Alices vivendo nos dias de hoje, no cotidiano da cidade de Tokyo, compartilhando sonhos, criando novos mundos. Meninas e meninos que são crianças e adultos ao mesmo tempo, se vestem de bonecas vitorianas reinventando as ilustrações de John Tenniel, entre outras paixões e mimos. Entre gestos, trejeitos, aventais, rendas, meias, laços, babados, Alice vira um novo modo de viver na contracultura de bairros alicinantes como Harajuku, Shinjuku e Akihabara. Lugares aonde se celebra a outridade e a alteridade, abraçando o maravilhoso dentro da cartografia contemporânea, viajando no tempo e na invenção de si.
O nascimento da cultura Gosu-rori (gothic Lolita) coincidiu com a publicação da tradução de Fushigi no kuni no arisu por Yagawa Sumiko, como me mostrou Sean Summers em Arisu in Harajuku. Ele é o meu coelho branco que me revelou essa realidade surpreendente e em grande parte mal compreendida. Sumiko estimulou o florescimento de uma contracultura que libera a imaginação das rotinas sociais repressoras e repetitivas, abrindo a possibilidade de novas amizades com o tempo.
O país das maravilhas (Fushigi) revela um atmosfera de sensações, incluindo encantamento, maravilhoso, mas também mistério, estranhamento e medo. Fushigi no kuni no arisu foi traduzido de modo a penetrar nas necessidades existenciais de uma geração, particularmente uma juventude marginalizada e desajustada que podia assim enfrentar o mau estar, a depressão, a violência e a rejeição, através do maravilhoso manifestado no cotidiano.
Fushigi não sugere devaneio ou escapismo, aponta Sommers, mas uma terapêutica da criatividade e uma “alquimia da metamorfoses”. Uma subversão dos padrões do feminino, derrubando as fronteiras entre o que é feio e bonito, doce e perverso, violento e delicado. Lolitas buscam prolongar a infância e questionar a cultura dominante com jeito de criança e pose de boneca, numa brincadeira de ser ou não ser que atravessa as fronteiras entre arte e vida. Será que Hello Kittys comem morcegos? Será que morcegos comem Hello Kittys?
Mas é importante ter em mente que faz também parte da própria lógica da moda contemporânea o exercício da metamorfose ambulante. A criação e expressão do si como um exercício de criatividade virou também um jogo de mercado. Vivemos na cultura da diferença, aonde entram em cheque uma pretensa criatividade e um desejo de unicidade conformado em fórmulas de existir, como identifica Cristiane Mesquita. A roupa pode ser um lugar de expressão num território existencial. Mas a moda também oferece no mercado identidades efêmeras de fácil substituição para serem consumidas. Como distinguir uma coisa da outra? Alice nos desafia.
“I, Kusama, am the modern Alice in Wonderland.” Afirmou a artista pop japonesa Yayoi Kusama que desde a década de 50 alicina mundos psicodélicos. Em pinturas, colagens, poemas, ousadias, esculturas, modas, estranhamentos e instalações surpreendentes, compartilha padrões, repetições, obsessões e visões do infinito.
Durante anos internada por transtornos mentais, suas obras refletem sua desafiadora percepção da realidade, onde as fronteiras entre o corpo, o self e o ambiente se misturam e se mesclam em proliferações de pontos repetitivos que pulsam e vibram com o cosmo. Todos somos loucos senão não estaríamos aqui, disse o gato de Chershire. Kusama cria jogos de espelho e caleidoscópios de padrões luminosos com efeitos deslumbrantes, incorporando uma visão quase alucinatória da realidade, numa experiência ao mesmo tempo sensória e espiritual.
Na década de 60 a artista foi para Nova Yorque aonde fez uma série de happenings políticos, numa filosofia de “Love forever”, promovendo uma reação contra a Guerra do Vietnã e todos os poderes autoritários, repressores e conservadores. Entre pinturas corporais e coreografias orgiásticas fez performance na escultura de Alice no central park, em 1968. Para Kusama Alice era a avó dos hippies e ela se tornou Alice, um ano depois de Grace Slick cantar White Rabbit com Jefferson Airplane.
Kusama chegou ao Central Park como o chapeleiro, com seus dançarinos nus, convidando todos para a cena do chá que estava sendo servido debaixo do cogumelo mágico. Pontos vermelhos, verdes e amarelos podiam representar a terra, o sol ou a lua, para Kusama. Ela pintou bolinhas nos corpos presentes para que as pessoas desfizessem seus contornos para retornar “à natureza do universo”. Da crítica aos poderes opressores das rotinas sociais da cena do chá de Alice, a um movimento de amizade com o tempo, cruzando as fronteiras entre os corpos e os ritmos cósmicos, diluindo as fronteiras do eu.
Dialogando com as ideias de Rosane Preciosa, Alice pode inquietar, intrigar, desestabilizar. Ela nos põe em contato com a incerteza, o imprevisível, a incoerência, a turbulência, o indomesticável. Rompendo com modelos hegemônicos de existência, as novas Alices devem inventar universos a partir da "escuta de seus próprios territórios existenciais". Alices se entregam para a grande vida e dizem: eu sou uma pergunta.
E se Alice não estiver no vestido, mas em suas dobras? Não estiver no azul, mas na sombra e na luz de num prisma multicor? Não estiver no cabelo, mas nos rumores do seu movimento? Não estiver no avental, mas nos vestígios de um encontro íntimo? Não estiver nos sapatos, mas nos saltos no desconhecido e nas incertezas de que caminho tomar? Não estiver na figura, mas nos diálogos? Não estiver nos diálogos mas no ponto da interrogação? Não estiver nas palavras mas nos vazios que respiram entre elas? Não estiver no comportamento mas nas batidas do coração? Não estiver no rosto, mas no sonho? Não estiver no ser, mas no vir a ser?
Referências bibliográficas
BAITELLO, Norval. As imagens que nos devoram – Antropofagia e Iconofagia. 2000. http://www.cisc.org.br/portal/biblioteca/iconofagia.pdf.
BRADLEY, Fiona. Surrealismo. São Paulo: Cosac & Naify, 1999.
CAMPOS, Augusto. O anticrítico. São Paulo: Companhia das letras, 1986.
CARROLL, Lewis. Fushigi no Kuni no Arisu. Tokyo: Esquire Magazine Japan, 2006. Ilustração de Jan Svankmajer.
CUNHA, Maria Zilda da e THOMÁZ, Nathália Xavier. Os diálogos de Alice. http://www.revistasetefios.com.br/?p=3138.
DELEUZE, Gilles. A lógica do sentido. São Paulo: Editora perspectiva, 1974.
Fashion Theory: A revista da moda, corpo e cultura. Volume 1, número2. São Paulo: Editora Anhembi Morumbi, 2002.
HUBERT, Renée Riese. Surrealism and the book. University of California Press,1988.
MABILLE, Pierre. Mirror of the marvellous. Vermont: Inner Traditions Rochester, 1998.
MACHADO, Regina. Acordais. São Paulo: DCL, 2004, p. 63.
MANGANELLI, Giorgio. Pinóquio: um livro paralelo. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
MARRET, Sophie. Rennes: Presses Universitaires de Rennes, 2005.
MESQUITA, Cristiane. Moda contemporânea: quatro ou cinco conexões possíveis. São Paulo: Anhembi Morumbi, 2004.
OVENDEN, Graham & DAVIS, John. The illustrators of Alice in Wonderland. London: Academy Editions. New York: Martin’s Press, 1979.
PRECIOSA, Rosane. Produção estética: notas sobre roupas, sujeitos e modos de vida. São Paulo: Anhembi Morumbi, 2005.
HOLLINGWORTH, Cristopher, editor. Alice beyond Wonderland: essays for the twenty first century. University of Iowa press, 2009.
5
Mercadoria
Alice olhou o seu reflexo na água do rio e ele se transformou numa menina boba e ingênua de avental azul conhecida por muitos em muitos anos como a verdadeira Alice. Sua estória recriada em um desenho animado pela fábrica de sonhos de Walt Disney ganharia muito poder, diluindo no imaginário coletivo, as metamorfoses da menina que se transformava a todo momento. Inspirada nas ilustrações originas de Tenniel, essa Alice se tornaria o novo ícone máximo, impondo por um bom tempo para o grande público uma identidade fixa e hegemônica para a menina de muitas faces.
Assistindo o desenho, Alice lamentou o nonsense ter se convertido em lições de moral e bom comportamento. Como as princesas do Walt Disney, Alice do desenho se mostrou uma jovem indefesa e passiva diante de um mundo louco e sem sentido. O país das maravilhas mostrava a loucura para que ela pudesse desejar a sanidade. Mostrava o desajuste, para que ela desejasse se ajustar. Os personagens indicavam para ela como era o sistema, para que ela aprendesse a se integrar, andar na linha e assumir o seu papel na sociedade.
Alice descobriu que muitos anos depois, no início do século XXI, a Disney produziria outro filme sobre ela, dessa vez dirigido por um diretor dark e cheio de imaginação chamado Tim Burton. Nesse filme, depois de muitos anos, Alice retorna ao pais das maravilhas para cumprir sua missão de derrotar um terrível dragão, o Jabberwock, conforme tinha sido previsto numa profecia. Todos perguntam a ela: Você é a verdadeira Alice?
Alice concluiu que não. Nesse filme o nonsense se encaixou em fórmulas reducionistas da concepção da saga do herói. Alice deveria virar uma guerreira, derrotar e destruir o inimigo num mundo maniqueísta, matar o dragão para então acordar e assumir seu papel colonialista. Alice retoma os projetos do pai de conquistar a China.
A verdadeira Alice, pensou, não é guerreira, mas aventureira. Não mata o inimigo, mas aprende com ele. Não quer conquistar o mundo, mas conhecer a si mesma. Para ela o país das maravilhas não é um campo de batalha mas uma viagem, um jogo, um jardim e uma aventura. Por isso esse filme é tão insuportável, pensou Alice. Porque ele mostra o pesadelo e a loucura que vivemos no mundo de hoje.
De novo graças ao Tim Burton e à Disney com todo seu investimento na divulgação do filme, se fortaleceu de forma nunca vista, a presença de Alice no imaginário contemporâneo. Não só pelo que ele mostra, mas principalmente pelo que estimula. Mesmo da repetição insistente de signos de consumo, renascem possibilidades de novos devires e amizades com o tempo. Entre os satisfeitos e os insatisfeitos com o filme, podem surgir inúmeras possibilidades criativas e existenciais. Com o filme tivemos a chance de ler o livro de novo, descobrir outras figuras, outras linguagens, outras viagens, produzir, criar, emocionar, descobrir e enfim se dialogar e se aventurar, cada um ao seu modo, nesse mundo emocionante que ainda nos desafia a mergulhar também.
6
Arisu
O nascimento da cultura Gosu-rori (gothic Lolita) coincidiu com a publicação da tradução de Fushigi no kuni no arisu por Yagawa Sumiko, como me mostrou Sean Summers em Arisu in Harajuku. Ele é o meu coelho branco que me revelou essa realidade surpreendente e em grande parte mal compreendida. Sumiko estimulou o florescimento de uma contracultura que libera a imaginação das rotinas sociais repressoras e repetitivas, abrindo a possibilidade de novas amizades com o tempo.
O país das maravilhas (Fushigi) revela um atmosfera de sensações, incluindo encantamento, maravilhoso, mas também mistério, estranhamento e medo. Fushigi no kuni no arisu foi traduzido de modo a penetrar nas necessidades existenciais de uma geração, particularmente uma juventude marginalizada e desajustada que podia assim enfrentar o mau estar, a depressão, a violência e a rejeição, através do maravilhoso manifestado no cotidiano.
Fushigi não sugere devaneio ou escapismo, aponta Sommers, mas uma terapêutica da criatividade e uma “alquimia da metamorfoses”. Uma subversão dos padrões do feminino, derrubando as fronteiras entre o que é feio e bonito, doce e perverso, violento e delicado. Lolitas buscam prolongar a infância e questionar a cultura dominante com jeito de criança e pose de boneca, numa brincadeira de ser ou não ser que atravessa as fronteiras entre arte e vida. Será que Hello Kittys comem morcegos? Será que morcegos comem Hello Kittys?
Mas é importante ter em mente que faz também parte da própria lógica da moda contemporânea o exercício da metamorfose ambulante. A criação e expressão do si como um exercício de criatividade virou também um jogo de mercado. Vivemos na cultura da diferença, aonde entram em cheque uma pretensa criatividade e um desejo de unicidade conformado em fórmulas de existir, como identifica Cristiane Mesquita. A roupa pode ser um lugar de expressão num território existencial. Mas a moda também oferece no mercado identidades efêmeras de fácil substituição para serem consumidas. Como distinguir uma coisa da outra? Alice nos desafia.
7
Fringe
“I, Kusama, am the modern Alice in Wonderland.” Afirmou a artista pop japonesa Yayoi Kusama que desde a década de 50 alicina mundos psicodélicos. Em pinturas, colagens, poemas, ousadias, esculturas, modas, estranhamentos e instalações surpreendentes, compartilha padrões, repetições, obsessões e visões do infinito.
Durante anos internada por transtornos mentais, suas obras refletem sua desafiadora percepção da realidade, onde as fronteiras entre o corpo, o self e o ambiente se misturam e se mesclam em proliferações de pontos repetitivos que pulsam e vibram com o cosmo. Todos somos loucos senão não estaríamos aqui, disse o gato de Chershire. Kusama cria jogos de espelho e caleidoscópios de padrões luminosos com efeitos deslumbrantes, incorporando uma visão quase alucinatória da realidade, numa experiência ao mesmo tempo sensória e espiritual.
Na década de 60 a artista foi para Nova Yorque aonde fez uma série de happenings políticos, numa filosofia de “Love forever”, promovendo uma reação contra a Guerra do Vietnã e todos os poderes autoritários, repressores e conservadores. Entre pinturas corporais e coreografias orgiásticas fez performance na escultura de Alice no central park, em 1968. Para Kusama Alice era a avó dos hippies e ela se tornou Alice, um ano depois de Grace Slick cantar White Rabbit com Jefferson Airplane.
Kusama chegou ao Central Park como o chapeleiro, com seus dançarinos nus, convidando todos para a cena do chá que estava sendo servido debaixo do cogumelo mágico. Pontos vermelhos, verdes e amarelos podiam representar a terra, o sol ou a lua, para Kusama. Ela pintou bolinhas nos corpos presentes para que as pessoas desfizessem seus contornos para retornar “à natureza do universo”. Da crítica aos poderes opressores das rotinas sociais da cena do chá de Alice, a um movimento de amizade com o tempo, cruzando as fronteiras entre os corpos e os ritmos cósmicos, diluindo as fronteiras do eu.
Dialogando com as ideias de Rosane Preciosa, Alice pode inquietar, intrigar, desestabilizar. Ela nos põe em contato com a incerteza, o imprevisível, a incoerência, a turbulência, o indomesticável. Rompendo com modelos hegemônicos de existência, as novas Alices devem inventar universos a partir da "escuta de seus próprios territórios existenciais". Alices se entregam para a grande vida e dizem: eu sou uma pergunta.
E se Alice não estiver no vestido, mas em suas dobras? Não estiver no azul, mas na sombra e na luz de num prisma multicor? Não estiver no cabelo, mas nos rumores do seu movimento? Não estiver no avental, mas nos vestígios de um encontro íntimo? Não estiver nos sapatos, mas nos saltos no desconhecido e nas incertezas de que caminho tomar? Não estiver na figura, mas nos diálogos? Não estiver nos diálogos mas no ponto da interrogação? Não estiver nas palavras mas nos vazios que respiram entre elas? Não estiver no comportamento mas nas batidas do coração? Não estiver no rosto, mas no sonho? Não estiver no ser, mas no vir a ser?
Referências bibliográficas
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Esse artigo foi publicado em:
The Lewis Carroll Society of North America
Winter 2011 | Number 87 | Volume II Issue 17
e na revista:
"Publicação científica digital
do grupo de pesquisa Produção literária e cultural
para crianças e jovens da USP".
Foi também apresentado no evento "Um dia, Alice 2012"
realizado na Casa das Rosas.