O artista plástico Luiz Zerbini (1959- ) conseguiu o que parecia impossível, passados 144 anos da publicação de Alice no País das Maravilhas: criar 31 ilustrações originais e alucinantes para a história a partir de cartas de baralho, recortadas e remontadas em verdadeiras maquetes teatrais. Afinal, a obra já ganhou desenhos de John Tenniel – cujas gravuras, tão populares no final do século XIX, foram reproduzidas até em embalagens de latas de biscoito –, Salvador Dalí, Peter Newell e do próprio autor, Lewis Carroll (1832-1898), apenas para citar alguns.
Integrante da chamada Geração 80 e autor do livro de arte Rasura (Cosac Naify, 2006), um comentário visual sobre sua pintura, Zerbini fala, na entrevista abaixo, sobre a realização deste trabalho, que teve a participação de sua filha Rita, de quatro anos: “Nunca fiz nada parecido.”
Integrante da chamada Geração 80 e autor do livro de arte Rasura (Cosac Naify, 2006), um comentário visual sobre sua pintura, Zerbini fala, na entrevista abaixo, sobre a realização deste trabalho, que teve a participação de sua filha Rita, de quatro anos: “Nunca fiz nada parecido.”
O que o texto literário oferece como ponto de partida para um trabalho de ilustração?
Lewis Carroll é um grande criador de imagens literárias. Em apenas uma única frase, há uma infinidade de “visões”. Por isso, quando fui convidado para o projeto, logo vi que seria um enorme desafio – cheguei mesmo a pensar em não levar adiante. Comecei os estudos em 2007 e, até chegar às cartas, não foi fácil encontrar o tom. Além disso, eu implicava com alguns personagens, como o gato, por exemplo.
A obra já foi ilustrada inúmeras vezes e, no entanto, seu trabalho consegue ser surpreendente. Como surgiu a ideia de criar maquetes com cartas de baralho?
Certa vez, estava em Bolonha e entrei numa loja só de baralhos, onde achei um jogo com figuras dos personagens do livro. A partir daí, busquei outros jogos para completar as maquetes com bichos, peixes, flores. O primeiro capítulo que planejei foi o da Rainha de Copas, para o qual fiz mais de vinte ilustrações. Tudo foi criado a partir de recortes e os efeitos especiais são garantidos apenas pela iluminação, num ambiente quase teatral, com fotografia de Julio Calado. O máximo que houve de interferência digital ficou por conta do efeito de ampliação e diminuição de algumas imagens, para dar uma perspectiva de escala.
Encontrou dificuldades para criar algum personagem?
Como tudo foi feito com cartas, ou seja, não desenhei nada, dependia do tipo de figuras que tinha em mãos. Não havia esboço nenhum, criei tudo sem muito planejamento. Por isso fui atrás de baralhos de vários países, para suprir a ausência de algum personagem. Lembro que não consegui achar nenhuma carta com a figura de uma lagosta, por exemplo.
Outra dificuldade foi fazer uma relação mais imediata entre os capítulos e a ideia que eu queria reproduzir. Por isso todo o trabalho exigiu várias tentativas. Como evitei repetir, na imagem artística, exatamente o que está no texto escrito, acredito ter criado uma história paralela.
Sim, embora eu tenha dificuldades em ilustrar ideias alheias. Não posso dizer que sou um leitor aplicado, mas adoro livros e literatura e, de alguma forma, eles estão presentes no que faço, mas de um modo nada tradicional. Para Alice, tive que mergulhar ainda mais nesta viagem nonsense criada por Carroll, buscar elementos que me ajudassem a não repetir o trabalho de outros artistas. Gosto muito do resultado. Nunca fiz nada parecido.
Lewis Carroll é um grande criador de imagens literárias. Em apenas uma única frase, há uma infinidade de “visões”. Por isso, quando fui convidado para o projeto, logo vi que seria um enorme desafio – cheguei mesmo a pensar em não levar adiante. Comecei os estudos em 2007 e, até chegar às cartas, não foi fácil encontrar o tom. Além disso, eu implicava com alguns personagens, como o gato, por exemplo.
A obra já foi ilustrada inúmeras vezes e, no entanto, seu trabalho consegue ser surpreendente. Como surgiu a ideia de criar maquetes com cartas de baralho?
Certa vez, estava em Bolonha e entrei numa loja só de baralhos, onde achei um jogo com figuras dos personagens do livro. A partir daí, busquei outros jogos para completar as maquetes com bichos, peixes, flores. O primeiro capítulo que planejei foi o da Rainha de Copas, para o qual fiz mais de vinte ilustrações. Tudo foi criado a partir de recortes e os efeitos especiais são garantidos apenas pela iluminação, num ambiente quase teatral, com fotografia de Julio Calado. O máximo que houve de interferência digital ficou por conta do efeito de ampliação e diminuição de algumas imagens, para dar uma perspectiva de escala.
Encontrou dificuldades para criar algum personagem?
Como tudo foi feito com cartas, ou seja, não desenhei nada, dependia do tipo de figuras que tinha em mãos. Não havia esboço nenhum, criei tudo sem muito planejamento. Por isso fui atrás de baralhos de vários países, para suprir a ausência de algum personagem. Lembro que não consegui achar nenhuma carta com a figura de uma lagosta, por exemplo.
Outra dificuldade foi fazer uma relação mais imediata entre os capítulos e a ideia que eu queria reproduzir. Por isso todo o trabalho exigiu várias tentativas. Como evitei repetir, na imagem artística, exatamente o que está no texto escrito, acredito ter criado uma história paralela.
Assim como a história de Alice, seu trabalho também flerta com o inesperado, o fantástico. Isso ajudou na hora de ilustrar o livro?
Sim, embora eu tenha dificuldades em ilustrar ideias alheias. Não posso dizer que sou um leitor aplicado, mas adoro livros e literatura e, de alguma forma, eles estão presentes no que faço, mas de um modo nada tradicional. Para Alice, tive que mergulhar ainda mais nesta viagem nonsense criada por Carroll, buscar elementos que me ajudassem a não repetir o trabalho de outros artistas. Gosto muito do resultado. Nunca fiz nada parecido.