ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS
Tradução e adaptação de Nicolau Sevcenko.
Ilustrações de Célia Seybold.
Série Reencontro. São Paulo: Scipione, 1995. (8a edição)
Formato: 14 x 20,5 cm. 126 pág. 34 ilustrações. Bico de Pena, PB.
Célia Seybold
Edição paradidática dirigida aos jovens, contando com uma breve biografia do autor, além de uma ficha de leitura destinada a aprofundar a compreensão do texto com questões de interpretação e análise literária “porque as grandes obras não se esgotam em si mesmas nem dizem coisas únicas”. A tradução é do excelente Nicolau Sevcenko, que recentemente retraduziu o livro de Alice dessa vez lançado pela editora Cosac Naify.
As ilustrações sutis de Célia Seybold nos convidam a um novo olhar que se não se limite à expectativa
de uma representação literal das cenas narradas ou da descrição física dos personagens. Suas ilustrações não oferecem respostas prontas, mas perguntas que desestabilizam o leitor acomodado. Somos convidados a decifrar e não simplesmente reconhecer.
Considero que as Alices de Célia Seybold fazem diferença em relação à tradição de ilustradores de Alice iniciada apartir das ilustrações originais de John Tenniel (1865), pelo dialogo que apresenta com o texto e o leitor. A Alice de Célia Seybold corre pelo livro na bordas e entrelinhas convidando o nosso olhar a acompanhar sua viagem. Seus cabelos soltos criam linhas de movimento, seu vestido esvoaçante desestabilaza os contornos da menina em constante transformação, em posições sempre imprevisíveis e improváveis.
É interesante notar que duas das ilustrações aqui apresentadas ilustram situações que não estavam presentes nas ilustrações originais da obra. Se a queda de Alice é um motivo recorrente entre os ilustradores posteriores, creio a que a imagem que se segue é bastante original.
Em algumas das ilustrações do livro, como é o caso das que eu selecionei aqui, Alice aparece em várias posições na mesma imagem. Esse é um recurso aparentemente evidente quando se trata de mostrar não apenas uma cena mas um acontecimento que se desdobra no tempo. A ilustração a cima, aonde aparecem duas Alices e quatro coelhos revela um estranho movimento durante a queda dos personagens que parecem se mover em zigue zague. Você poderia dizer: isso é um sonho, tudo pode acontecer segundo uma outra lógica. Eu imagino os retângulos que articulam o espaço como retangulos de uma história em quadrinhos em que os personagens transbordam das margens e vão viver loucas aventuras num mundo onde as regras estão de cabeça para baixo. Já o desenho abaixo me encanta por mostrar não o país das maravilhas ou Alice dormindo e sonhando.
Essa imagem me mostra o movimento de despertar de Alice, não é Lindo?
De forma mais evidente, o caráter marcadamente estilizado dos desenhos reforçam seu aspecto conceitual fugindo uma tendência mais naturalista. Sua Alice não é uma menina, mas um símbolo gráfico. Seu rosto circular, dividido ao meio pelo próprio perfil pode ao mesmo tempo sugerir uma pintura de Picasso ou mesmo Milton Dacosta ou revelar uma Alice lunar, dividida e em contínua transformação – crescente, cheia, nova e minguante – sendo tantas e ao mesmo tempo uma: alualice.
" ... a quase abstração de sua forma física, dá a impressão de que ela é alheia a tudo. Mas essa é também a melhor representação de um sonho, onde o corpo parece não ter forma, onde se corre sem sair do lugar, onde os acontecimentos passam muito rápido e em questão de segundos, se muda de um lugar para o outro, encontram-se outras personagens, e tudo parece flutuar, assim como é descrita nos desenhos da ilustradora". Nilce Maria Pereira
Célia Seybold
Milton Dacosta
Inicialmente Dacosta pintou composições figurativas e paisagens. Em 1941, começou a fazer figuras humanas geometrizadas, tendo como referência o Cubismo. Na década de 1950 aderiu ao Abstracionismo Geométrico, e sua pintura é marcada por influências concretas e neo-concretas.